Diferentes linhas de estudo e novas tecnologias para auxiliar na luta contra o novo coronavírus surgem a todo momento em todo o mundo. No Brasil foi divulgada a realização do maior projeto científico do país, o superacelerador de partículas Sirius que pode mapear moléculas que inativem o vírus, permitindo o desenvolvimento de novos medicamentos.
Trata-se do mais complexo (e maior!) instrumento de pesquisa científica feito aqui no país e a previsão é de que ele incentive o avanço de pesquisas em várias áreas.
Embora não esteja totalmente aberto aos cientistas (o que pode ocorrer apenas no segundo semestre de 2021), logo nas primeiras pesquisas, foi encaminhado para a busca de um possível medicamento contra o novo coronavírus.
Um dos grupos que já trabalha com o Sirius estuda doenças como febre amarela, zika e chikungunya, mas desde a chegada da pandemia todas as pesquisas estão focadas no gerador da maior crise sanitária mundial dos últimos 100 anos.
O responsável pelo superacelerador é Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), uma organização social supervisionada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações.
A máquina é gigante e pode “escanear” todo tipo de matéria, o que antes só era possível ser feito no exterior.
O principal objetivo desta nova tecnologia é a produção de enzimas importantes do vírus em laboratório e posteriormente, a verificação de quais moléculas ou medicamentos podem interagir com essa proteína em tubo de ensaio.
Segundo os pesquisadores, sem essa máquina, o estudo do vírus no Brasil seria menos eficaz, já que por ter uma potência maior, o superacelerador de partículas possibilita que a luz síncroton usada nas linhas de pesquisa entre muito mais a fundo nas estruturas, o que dá nitidez à visão dos cientistas. Isso aumenta a velocidade da identificação de moléculas que atravanquem a infecção provocada pelo vírus. E é assim que pode surgir um novo medicamento, um processo longo e minucioso.
Até agora, milhares de moléculas foram testadas e pouquíssimas chegarão ao fim do processo. Aproximadamente 20 moléculas demonstraram ter alguma atividade em inibir a enzima do vírus, mas ainda há outras etapas de verificação, que podem durar meses, até que seja encontrada pelo menos uma molécula com um perfil adequado para ser testada em animais e esse será o princípio ativo de um eventual antiviral.
Posteriormente, serão realizados testes laboratoriais até que ela possa chegar às fases de experimento em humanos, assim como ocorreu com as vacinas aprovadas em vários lugares do mundo contra a Covid-19.
O superacelerador de partículas diminuiu o caminho dos pesquisadores brasileiros para novos experimentos. Com ele é possível realizar os mesmos experimentos, de forma equivalente aos síncrotrons europeus e americanos.
Com essa tecnologia, além das atividades referentes ao coronavírus, estão em desenvolvimento experimentos relacionados às buscas de outros medicamentos e antibióticos para doenças raras e negligenciadas, assim como o Mal de Chagas.
O Sirius, quando as linhas de luz síncroton estiverem totalmente prontas, estará entre os principais do mundo e poderá ser utilizado em diferentes áreas científicas, desde a farmacologia, passando pela agricultura e chegando à exploração de petróleo em águas profundas.
A inovação deste superacelerador abre novos caminhos para avanço do Brasil no desenvolvimento de produtos tecnológicos a partir da biodiversidade nacional e pode viabilizar uma cadeia sustentável na área de fármacos.
Resultado de um projeto ousado iniciado no início deste século por alguns cientistas brasileiros, o Sirius começou a ser desenvolvido em 2009, quando R$ 2 milhões foram destinados pelo governo federal para estudar a proposta. A construção do mesmo teve início em 2014, no campus do CNPEM, em Campinas.
Ele foi orçado em R$ 1,8 bilhão, mas ainda faltam cerca de R$ 500 milhões para serem liberados. Este complexo de pesquisa é totalmente financiado pelo governo, e mesmo com os cortes de verbas da ciência nos últimos anos, são números superlativos. São 68 mil metros quadrados de área construída, 1.000 km de cabos elétricos e 900 toneladas de aço.
Quando finalizado, o Sirius terá no total 14 linhas de luz e cada uma delas apresentará característica específica e contará com nomes alusivos à biodiversidade brasileira.
Até agora, a única linha em operação é a Manacá, mas a previsão é de que até o início de 2022 outras seis linhas de luz estejam com algum tipo de operação.
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